LIVRO 1
Noites de Setembro
Abimael Borges
Poesias
AO
LUAR DE SETEMBRO
Numa
noite de setembro eu tive
Uma visão
angelical:
Não era
pintura de Picasso,
Nem
escultura de Michelangelo;
Era um
anjo que se despia
De sua
luz em minha frente.
Não era
olhar de visionário,
Nem
fantasia de carnaval,
Não era
um jogo de bilhar,
Nem
ilusão da minha mente;
Era um
anjo que se despia
Ficando
nu em minha frente.
Que
intérprete celestial
De sua
nobreza desceria
Para me
contar com firmeza
Tudo
aquilo que eu via?
Não era
coisa de demente:
Era um
anjo em minha frente.
O fino
manto que o cobria
Tinha o
cheiro da flora
Banhada
ao luar de setembro,
Que de
beleza enche os olhos
E de
doçura enche a vida.
Anjo
perfumado de pureza,
Caminhando
lentamente,
A deixar
cair de si
O fino
manto que o cobria.
Anjo a se
aproximar de mim
Com um
toque flamejante
E um
suspiro profundo.
ELOGIO
Eu não
fiz uma poesia
A fim de
elogiar os homens,
Pois a
estes cabe
O elogio
da terra.
Cada
chuva ácida
É um
aplauso à astúcia;
Cada
furacão, cada tornado,
Cada
tempestade, todo maremoto,
Cada
terremoto aplaude o homem.
Vede a
felicidade dos céus,
Da terra
e dos mares
Em todo
lugar onde
O ser
inteligente
Implantou
os seus projetos
Projetos
de uma raça sem dó
Concepções
de uma espécie só.
Quem consultou o javali
Se queria ele morar ali?
Agora vai
a Marte;
Quem sabe
de lá outrora
Não
vieram a Terra
Trazendo
os costumes egoístas?
Com os
quais destruíram seu mundo?
Eu não
fiz uma poesia
Para
elogiar os homens,
Pois a
estes cabe
O elogio
da Terra
E o
abraço do Sol.
SER
INFORME
Por horas
sou o sol,
Por vezes
sou a lua,
Ainda
hoje fui à rua,
E lá
estavam as estrelas.
Às vezes
eu sou cometa,
Outras
vezes sou satélite,
Ao certo
eu não sei quem sou,
E se eu
não for quem acho,
Então
talvez seja o riacho,
Sobre os
penhascos da dor.
Há horas
que me desabo,
Horas que
me levanto,
Oh! Deus,
nem sei como não canso
Das horas
que me percebo
E
daquelas que me procuro!
Agora vou
à penumbra,
De
repente eu volto em luz.
Sei que
vou sumindo no universo
A cada
volta do planeta.
Nesse ser
sem ser e reverso
Nesse
vai-e-vem interminável
Vou viver
no mundo
Entre
complexidades
E
contradições próprias
Dos
humanos ou
Dos
insetos.
MEU
NOME É GENTE
Por via
das dúvidas
Deixe-me
esclarecer
Aos que
me tem por demente
Não sou
espelho do mundo
Nem sou
receita de homem
Sou um
ser diferente,
Ó fulano!
Meu nome
é Gente
O poema é
meu, senhores,
Saiu de
minhas entranhas
Eu o
concebi
Ele me
pertence
Sou poeta
sem identidade
Meu nome
é Gente
QUANDO
OS OLHOS SE FECHAREM
Eu amo o
que sou
Porque
meu ser é completo.
Completo
de imperfeições,
De
virtudes relativas,
De
irrefletidas buscas
E de tudo
que se repete
Num ciclo
eterno
Para
formar meu ser.
Eu amo o
que a vida é
Porque em
si não se presta à perfeição;
Com
experiências ensina
Dos erros
e enganos
Suscita
transformações.
Mesmo
assim reclamo
Porque
todo ser pensante
Quer
entender a si plenamente
E ao que
está à sua volta;
Porém
aquele que rege o Universo
Deu-nos
enigmas profundos
E a árdua
tarefa de desvendá-los,
Fantástica
descoberta de minúcias
Tão
complexas que assim
Justificam
a existência.
Eu amo,
por fim, a comunhão,
Embora a
controvérsia da sobrevivência
Implique
na morte pela vida dos seres.
E este
ser que ama a tudo,
Que no
absurdo vê brotar a esperança,
Este
mortal que acredita na vida pura,
Não teme
o mundo nem o mal
Quando os
olhos se fecharem
Na visão
do infinito...
E o
conhecimento pleno,
Do agora
e de tudo,
Estará
sobre ele
Eternamente.
O
QUE DIZEM AS FLORES
Flores
que brotam no silêncio
Da terra
preta molhada;
Que sobem
sozinhas e se abrem,
Balançando
ao vento
Para
animar a vida.
Pétalas
umedecidas de uma noite inteira,
Sob o
frescor do orvalho,
Que solta
um aroma suave,
Afetuoso
como a erva-doce,
E atrai a
si as mãos das fadas.
As
meninas de cabelos compridos
Que
correm entre as árvores dos jardins
Vestidas
de azul-céu ou verde-mar;
Correm
como se bailassem a uma canção
E têm um
coração pequeno de tanto que bate.
Corre
incansável pelas flores frescas,
Usa as
mãos de seda para agarrá-las
E as
tomam como a um grande amor;
Os
meninos, pálidos de desejos furtivos,
Que se
envaidecem à frente do espelho
E se
aborrecem com cravos e espinhas,
Esboçam
rascunhos de falas carinhosas
Que tão
poucos efeitos causam.
Quando
não adentram o universo poético
De falas
tolas e fragmento de versos
Ou suas
habilidades, formas e cores páram
De agir
sem razão aparente,
Eles
ousam agachados às flores,
Com mãos
de coragem e medos implícitos,
Agarrá-las
e admirá-las como se nelas vissem
Seus
maiores amores ou um grande sonho.
Vão
levando com eles odores festivos
E sobre a
pilastra da varanda
- que em vez de casa é templo de fada -
Largam-nas
solenes e se afastam.
Eles
sabem para quem foram deixadas
Elas
sabem quem lá as colocaram
E tudo
mais deixa que as flores digam
Permite-se
que as flores falem;
Falam
muito melhor
Que as palavras.
E seu
frescor,
Aos
corações aquece.
FOLHAS
SECAS
Era
apenas uma folha verde;
Uma folha
sonhadora balançando ao vento,
E queria
voar mais longe...
Viu uma
gaivota distante
Com asas
abertas no ar;
Viu seu
pouso lento no chão
E seu
revoar suave.
Folha,
que em tua mãe-árvore
Estás em
sossego!
Aquieta-te
ai mesmo
Que os
ares a ti são negros!
Mas não.
Teima em querer voar.
Briga,
pede dispensa.
Quer se
soltar,
Quer
liberdade,
Não teme
o desconhecido.
Árvore
que balança
Numa
quase mórbida insistência,
E a filha
folha malcriada não quer ficar.
A folha
se amarela tristemente e cai.
Solta-se,
liberta-se, voa.
Um curto
passeio das alturas.
Vale a
pena? Quando vale a pena?
Descer
num bailado magistral?
Encantar
uma platéia imensa?
Descer é
a dor do fim vindouro
Declinar
pensando estar em vôo
Sem ver
se aproximar o chão que chega,
O vôo
converte-se em pura queda.
E outras
folhas a viram voar.
Então, em
comentários e elogios,
Não
escondiam a inveja.
Uma diz:
também quero voar!
Outra:
quero experimentar.
Uma a uma
voam ao chão.
Chora,
mãe-árvore, a dor da perda
Que é
verão e tuas folhas se secam!
Tuas
lágrimas quentes encher-te-ão de flores.
Deixa
estar. As folhas também chorarão
A pedir
que um vento as carregue
A um vôo
igualmente breve.
A
BELEZA DAS CINZAS
Para
Saimara Mello
Uma vez
fui árvore seca
Do tipo
que se vê murchando,
Deixado
para trás por alguns amores.
Árvore
seca numa beleza rara!
Uma
montanha distante prende
O sol que
rompe com o mundo
Que pouco
a pouco abraça
A noite
profunda e triste.
Então a
cena é única,
Mesmo que
se repita.
A árvore
seca à frente:
Galhos
que apontam para o céu;
Cascas
mortas que se desprendem,
Descem pó
de madeira morta.
Árvore
seca distante da estrada,
E o
passageiro olha, vendo-a finda,
Já preste
a virar fogueira
- Folhas,
flores e frutos -
Vão
caindo aos poucos.
Fica
pelada, apontando para o céu,
Como a
implorar uma gota salvadora.
Um pintor
achou-a linda.
Suas
curvas desenhadas imperfeitas;
Um fundo
de cores quentes da tarde;
Uma
sombra preta estendida ao chão,
E a
pintou pra sempre em sua tela.
Agora a
árvore seca não está morta;
Está
congelada no tempo eternamente,
Numa
beleza imutável e de pé,
Para
dizer a todos que passam,
Que mesmo
perdendo as folhas,
Flores
caídas ao vento,
E sem
esperanças de novos frutos,
Há beleza
nos galhos compridos
Apontando,
no céu, o infinito.
Ainda que
a seus pés uma labareda
Inflamada
aos poucos lhe queime,
Restará
em nobreza imponente
A beleza
das cinzas.
BEIJO
AMARGO
Tropeço
em teu olhar
Piso em
falso no desejo
Sinto, a
sugar-me, o amargo beijo.
Ainda
mais aumenta a fome que te busca
Embutida
neste peito que deveras
Perde-se
pouco a pouco por ti.
Sempre
amargo o beijo frio.
Em tua
pele o sal quente se desmancha;
Não me
arranha o toque de tuas mãos.
Aproveito
o som dolorido de teu ronco,
A
delicadeza firme do teu corpo,
Largado
de qualquer jeito sobre a cama,
A cama
que já antes fora nossa.
Tu és
minha infelicidade pura;
A
falibilidade do sossego deste ser
Que se
busca nas perdições agudas
E que
inutilmente tenta
Resgatar
a paz perdida um dia.
És a
ingenuidade crua,
O luto
que envelhece sobre o corpo,
E se
perpetua sobre a alma enegrecida
Que, na
penumbra, pena de pesares
Numa
timidez maligna que vai se espalhando.
Agora
comparo os passos lentos que dou
Com os
que outrora conseguia.
E por
onde anda o teu coração?
Quem dera
eu saber agora!
Como um
bandido malvado,
Num
escuro profundo, quisera
Dilacerar
tuas entranhas para apenas
Fotografar
detalhes das andanças tuas.
Fazer
raios-X do peito que me trai,
Que
amamenta anseios de outros seres
E que me
fez mergulhar
Neste mar
de profunda procura.
Apenas de
desejos vivem
Os sonhos
que nasceram ao acaso,
Molhados
por tua saliva incandescente,
Regados
por teus olhares penetrantes,
E que com
teus pés, gentilmente,
Vais
pisando sem receios,
Vais
matando-os.
LIVRE
PRISIONEIRO
O
horizonte sempre acaba atrás do monte
E a
estrada termina após a curva;
O
fantasma de teu rosto
Sempre
está em minha frente.
O futuro
não existe,
E o
passado é o sempre.
A
plenitude do tempo em nós:
O hoje é
eterno embora o corpo morra.
Minhas
cores preferidas
Não
estavam em teus quadros;
Minhas
formas mais bonitas
Não
pintastes em teus retratos;
Meus
desejos mais secretos,
Que
somente tu sabias,
Não
deixastes escondidos
Nem
fizestes ser verdades.
Nem ao
menos na amizade
Minhas
músicas ouviste.
Meus cds
tu os arranhaste,
Da
cerveja que eu bebo
Nem um
pouco provaste.
Que
segredos há contigo?
Onde
estás que não me ouve?
Nenhum
relógio mede o tempo
De uma
madrugada solitária,
Nem
termômetros medem o frio
Que me
faz a tua falta.
Forja
hoje em forno quente,
De metal
indestrutível,
As
cadeias e as correntes;
De
blindagem faz a cela
Que se
hoje eu saio dela
Vou
roubar teu coração.
Por que
quero liberdade?
Onde a
encontrarei?
Se ando o
tempo todo
Numa cela
de saudades,
Num
castigo de desejos,
Vendo o
sol se escondendo
E me
acabando no tempo?
Não há
nada após a curva,
Nem
horizonte atrás do monte;
E tu
estás na minha mente.
PALAVRAS
A falação
nossa de cada dia.
Palavras
flamejantes que voam,
Lagartos
se arrastam nas pedras,
Ditados
que os ares povoam,
Destilam
raios ferinos.
Serpentes
são como meninos,
Crianças
são anjos crescentes.
Todo
zumbido da cabeça
Sobre
papel vai caindo,
Como lava
penetrante
Ou
orvalho sereno.
E não se
perdem ao vento
Letras
das mãos dos poetas,
Derrame
de nostalgia,
Flores
que brotam no seco
A miragem
do ermo,
Um fenômeno novo.
Sol que
se desnuda novamente
E o dia
amanhece outra vez;
Nudez do
sol que ilumina a terra,
Aquece a
quem sofre o frio,
Abrasa a
quem o teme.
CORPO
ESTRANHO
Larguei
tudo por ti
O sonho
de um sábado à noite;
Uma noite
apenas e mais nada.
Está
escrito em tua cara:
Tens
vontade de expressar teu ódio;
O rosto
sombrio não me nega.
Vai,
levanta dessa mesa,
Deixa que
eu pago a conta!
Larga meu
olhar perdido no passado,
Meu corpo
estranho em mim,
Saboreando
o doce do beijo que te enojas.
Basta-me
o guardanapo sujo de teus lábios;
O garfo
que tua boca tocou.
Teu corpo
que de mim se afasta,
De um
jeito muito indiferente,
A tentar
disfarçar a repugnância.
Dá-me
mais uma desculpa de ir ao banheiro,
Para
lavar o rosto e a boca imunda,
Neste
rosto que sorri de fingimento
Eu vejo o
ódio que tens de mim.
MENSAGEM
UNIVERSAL
Homens e
estrelas
Em um
debate infernal.
Raios
luminosos que se propagam
Pelo
infinito indefinido no espaço,
Pela
vastidão do tempo.
Homens e
estrelas
Numa
velocidade estonteante,
Desprendidos
da gravidade da Terra
A
viajar por inércia eternamente.
Quem
deixou acesa a ponta do cigarro?
Quem
queimou a pele indefesa da criança?
Quais as
barreiras que encontrou Gaia,
Que em
seu caminho em torno de si,
Deixou-nos
a morrer de fome?
São as
mesmas coisas que querem levar
Para a
filha única na qual pisaram.
Não há
homens nem estrelas que respondam,
Mas os
gemidos ecoam por ondas infindas.
Nem que o
brilho das estrelas infinito fosse
Poderia
impedir que voem
Os gritos
da geração
Que a
omissão dos cometas fez existir.
Se for a
existência, um fato inútil,
Apenas
conceituamos quimeras.
Como se
esse universo fosse gelatina
Onde as
rachaduras vêem-se como raios-gama
Desdobrando-se
de acordo com sua espessura
Para ser
raios luminosamente diferentes,
Espetáculo
aos olhares curiosos das massas.
Se os
poros desta gelatina galáctica
Fecha-se
ao exterior numa força abrupta...
Sendo um
orifício oposto à matéria
Descolorado,
do ponto de vista artístico,
E mesmo
assim é fantástico e perigoso,
Então por
fim hão de admitir
Homens e
estrelas
Conviverem
juntos.
O
RETORNO DO MÁRTIR
Meu
coração ferido resistiu.
As cascas
das minhas feridas estão caindo,
Sinal de
que vou me curando, aos poucos,
De todas
as quedas sofridas. Vou vivendo.
Meu fim e
meu começo num encontro de paz,
Dando-me
lição de recomeço pleno.
O medo
que me detinha exalto.
O medo
deixou-me vívido,
Ávido do
ser que me forma,
Que não é
imortal, mas se reforma
À medida
que se eterniza
Sobre os
palácios que meus pés pisaram.
Eu nego
que a dor me devora
Menos que
as pavorosas lembranças.
Tenho-as
como a herança cravada
Em cada
caminho que vago,
Mas nem
se coloca aos pés das cruzes
À beira
da estrada distinta,
Impune
dos crimes de morte
Que
cometem e culpam os homens.
Agora
exala o odor do meu sangue pisado;
Mesmo as
feridas profundas já cicatrizaram,
A
intensidade da dor não matou meus sonhos.
Repousei
sobre a vingança dos que me vitimaram;
Dormi
sobre o leito de ódio de quem me envenenou,
Ademais,
resta apenas que estou vivo esta é a
verdade
Resta
ainda que minhas mãos estão desamarradas,
Que a
ferrugem e a podridão comeram os laços,
Que meu
fôlego retorna desdobrado e forte
E que
meus ossos não estão quebrados...
Portanto,
estou pronto.
Nada hei
de desejar a meus carrascos,
Visto que
se destroem em si mesmos;
E nada,
mesmo a Morte, pode agora me intimidar,
Visto que
este medo deixou-me vivo,
E
mostrou-me que ao caminho da eternidade,
Prossegue-se
sem meios termos,
E a honra
na morte é mais nobre,
Que a
vergonha na vida.
O
ÉSSE
O Ésse
não sabia o que fazer:
Se vivia
pra servir
Ou se
servia pra morrer.
O Ésse
não se sentia
Não se
encontrava em si
Não se
achava em nada
Além
disso, o Ésse era tímido,
Tinha um
ar de quem esqueceu algo
Carregava
o medo de quem teme a tudo
Falava
fino, desafinado, engasgado,
Olhando
por baixo fingindo ser mudo,
Mas o
Ésse era malandro:
Andava na
calada da noite
Procurando
más companhias.
Disse um
dia, sem saber que ouviam,
Que
precisava de alguém
Para
fazer coisas proibidas,
Para amar
sem olhar quem.
Esse Ésse
tem manhas
De mil e
um gatos pretos.
OUTRO
Sempre me
pergunto:
Que mania
boba é essa de gostar,
Que jeito
louco é esse de querer
Tocar aos
poucos a pele de outro ser?
Amar
assim é morrer aos poucos,
Sentindo
o toque virtual nos lábios
De uma
maciez aveludada e perfeita.
Sempre
pergunto ao meu coração:
Que
teimosia é essa de bater forte,
Quando vê
este outro ser à frente,
Ou quando
simplesmente bate a lembrança?
Aliás,
tenho que saber desta memória minha,
Por que
guarda todas as lembranças,
Por que
sempre trás à tona um momento...
Se pelo
menos fossem de realizações,
Se pelo
menos houvesse uma prática nobre,
Um
desenrolar de amor gostoso e forte...
Mas não.
São apenas imagens e desejos;
São
olhares desencontrados.
Sempre
indago ao meu lugar:
Que mania
é essa de estar sempre do lado
De quem
não me olha de frente,
De quem
olha em outra direção,
De quem
se esquece que eu estou do lado?
O meu
caminho ainda não me respondeu
Uma
pergunta que fiz em segredo,
Um dia
que eu tive um grande medo,
Quando me
vi ao lado da solidão...
Quando, ó
caminho,
Quando
esta separação vai se encontrar
Frente a
frente com aquele olhar?
Quando
meu destino vai me colocar
Olho no
olho daquele outro ser?
Respostas?
Não.
Silêncio,
De tudo e
de mim mesmo.
Sento-me
neste banco de praça,
Olho o
céu negro e a lua de prata,
E
prossigo a definhar de desejos.
Sem ver
teu ser eu te percebo.
Tremo ao
te ver e me excito.
Ao te
tocar, não sei o que sinto.
É êxtase!
É euforia! É continência!
Tu és o
ser que me rejeita!
Eu sou o
ser que vai te amando!
Eu choro
em tua despedida,
Tu ris de
mim...
Retirando-te.
A
ÚLTIMA TORRE
Deixo-me
cá,
Sob o
chuveiro celeste,
De onde
desce agulhas
Qual fina
chuva sobre o deserto,
Enquanto
ele parte de mim
E sobe
penosamente a última torre;
Anda
vadio e demente,
Esquivando-se
da dor da morte,
Pensando
que sua sorte,
Será
viver eternamente.
O engano
será seu mestre.
Ele
reside ali,
Num
castelo de neve,
Mas ao
Inferno ele deve
E vai
perder todo o frio,
Dando
contas às águas dos rios.
Vê-lo-emos
ruir
Com sua
última torre,
Seu
império funesto,
Sua tábua
de dormir.
Estarei
então lá
Para
chorar a dor que o devorará
E saber o
porquê de não ter me amado
Por que
só quis me usar,
Deixando-me
sobre um leito de mágoas.
Todos os
amigos o verão se acabar,
Todos o
verão sucumbir;
E, em
coro, com certeza dirão:
Quem aqui
fez
aqui tem
que pagar!
O
SILÊNCIO E O SOM
Quero
hoje a música maior
Que
profane o silêncio profundo
Das
agruras que minha alma sofre.
Quero que
seja o canto mestre
Que ecoe
cego pela vastidão do mundo
E tal
qual em um vácuo eterno
Se
propague sem limite pelo tempo
Como o
lamento dos cantores do oriente,
Ou a
ostentação dos norteamericanos,
Que seja
indulgente feito canto gregoriano
Surpreendente
como O Moldávia e nada mais.
Não me
importa agora o que a linguagem diz,
Quero o
som penetrante dos acordes da ópera,
A
embriaguez a que se eleva o espectro do homem,
Sob sinos
e instrumentos de cordas.
Porque
procuro na voz dos homens
O grito
mais longo, profundo ou forte,
Que seja
acompanhado por instrumentos de sopro,
E que,
por todo esse conjunto indissolúvel,
Espalhe
em mim a divindade plena que me falta.
Porque
minha alma sedenta procura
Beber o
líquido fresco de uma fonte
Que hora
se encontra vazia de som;
O som que
vem do mover das águas.
Porém se
nada disso me servir
Se eu vir
a habitar o silêncio triste de sempre
Nem
desejarei mais som algum,
A não ser
aquele que faz
Minha
barriga vazia
Tanto
quanto o coração se sente.
FAMÍLIA
Os meus
irmãos são como galhos secos
Altas
árvores e seus ramos distorcidos;
Num canto
protegido de uma igreja
Estão
enterrados os nossos umbigos.
Minha
irmã a mais velha
É como
jaqueira cheirosa
E seus
filhos como sementes
Lançados
ao vento.
Outras
irmãs que ainda tenho
São
pólens e grãos pelo ar;
Um dos
meus grandes medos na vida
É não
saber onde vão parar.
Minha mãe
é uma flor ferida
Na maciez
de suas pétalas
Repousa
tranqüilamente
As gotas
de seu pequeno ser.
Meu pai é
como ave marinha em pleno revoar:
Pousa um
pouco e depois segue seu caminho.
Olha seus
domínios cercados de vasto mar
Vê o
mundo, mas acha que está sozinho.
PARA
QUEM ENTENDE DE BELEZA
Há beleza
que é rara
Existem
outras que são caras;
Há
belezas que são puras
Existem
belezas chulas
E a tua?
Que beleza será?
Tua
beleza? Onde está?
Em cima
na terra?
Voando
pelo ar?
Na
vastidão do espaço ou
Nas
profundezas do mar?
Tua
beleza? Como está?
Como
segredo guardado no porão?
Frágil
como boneco de neve?
Há beleza
que está na pele
Há beleza
de coração.
Enfim,
como, onde e o que será, pouco importa.
Beleza
não é coisa morta,
Não é
coisa que se possa explicar;
Existe
até beleza que é torta
Mas
nenhuma deixa de brilhar.
É que a
vida é assim mesmo;
Uma hora
me olho no espelho
E não quero
ver o que vejo.
Às vezes
ando na rua
E vejo o
que não quero ver.
O que
importa não é o que vejo;
É o que
consigo sentir.
Assim,
tudo o que se sabe do belo,
Na mera
visão do que se põe na mesa,
Para quem
entende de beleza,
Não passa
de pó de chinelo.
BEIJO
DE INSANIDADE
Beijo tua
boca como se devora carne
Carne
macia temperada ao fogo.
Beijo tal
qual a abocanhada
Na maçã
suculenta que dou.
Teus
lábios grossos são tabletes de chocolates,
E tua
língua salgada como o queijo;
Os lábios
estalam ao toque profundo dos meus dentes,
Produzindo
o suco que o corpo aquece.
(Meu
Deus, o que é isso?
Que
loucura é o beijo
Da boca
gostosa
Do ser
que desejo!)
Beijo de
insanidade pura,
Coisa de
um apego doido;
Figura
típica de maluquice
Maníaco,
alucinado, demente.
Quem não
vê a mão que arrasta o pescoço
Contra o
outro como se não fosse gente
E os
corpos se contorcem todo,
Um contra
o outro, a parede, e é pouco...
E precisa
dizer que os corpos se ardem?
Riam de
fininho, mas não disfarcem:
Quem não
deseja um beijo louco?
VAMPIRO
Morcego,
nêgo, como eu te admiro!
A lua
cheia atrás da nuvem negra foi sumindo
E na
penumbra da noite chegaste voando,
Assustando
as donzelas pálidas que estão passeando,
Aos
gritos elas correm e eu fico rindo.
Morcego,
nêgo, como eu te admiro!
A
escuridão tomou a noite em ermo.
O pescoço
do moço foi aparecendo...
Senti por
ele um tesão intenso
E uma
sede doida me foi secando,
E os meus
dentes logo foram crescendo.
Teu fim,
moço moreno,
É breve
estar nos meus braços;
E o fim
da virgem pálida não sei,
Não sei
se a mereço.
VINGAI-VOS
DA MORTALIDADE
A vós,
pequenos mortais,
Direi o
segredo dos deuses.
A grosso
modo, a lógica é:
Sorriam,
meus filhos,
Que isso
enfurece os deuses.
Já nos
bastam as mazelas do mundo,
A
desgraça e a profunda dor,
O peito
sangrando do amor,
Ou mesmo
a podre solidão.
Sorriam
agora que vos definhais!
Sorriam
que isso enfurece os deuses.
Que mais
esperais senão o matar
De
pirraça os imortais?
Fazeis
tudo com gosto,
Ardeis em
harmonia,
Subjugueis
a certeza de que
Vós todos
sois mortais.
O
ÚLTIMO ADEUS
“O meu amor é uma carta que voltou,
mas o meu ódio tem endereço certo.”
Herculano Neto
A
distância retorce
A imagem
que meus olhos tentam ver;
O tempo
com seu vento
Afasta as
lembranças curtas.
As
novidades, essa poeira viva,
Recobre o
resto que sobra.
O meu
amor nasceu tão forte...
Cresceu
mais cedo do que imaginei
Para eu
descobrir que é mais difícil amar
Do que
viver sem ter ninguém
Odeio meu
coração, este bobo,
Combalido
por um amor sem gás
Um querer
cego que só tem um lado
Ao que
devo este meu último adeus.
Vem a
brisa fria da saudade
Fazendo
chover meus olhos,
Lavando a
lápide congelada
Onde se
pode ler:
“Aqui jaz
eternamente um coração ferido”.
PEQUENAS
COISAS
Um
relance de repente.
Um gesto
fugaz,
Desprezíveis
suspiros
Discretos
olhares.
Desejos
gravados
Nos
traçados entrelaçados;
Nas
entrelinhas das estrelas,
O
registro eternizado
No papel
do acaso.
Olhamos e
não percebemos...
É como ver a maçã e não comer.
Sonhamos
e não entendemos.
É como não sentir o sabor.
Tão
atados que estivemos
À frívola
decepção do momento
Que no
aperto de mão
Nem houve
pele.
Tudo tão
normal
Como, no
deserto, andar a camelo,
Como no
drink - o cubo de gelo;
Normal
feito luta entre o Bem e o Mal.
Não eram
os vestidos das noivas,
Nem
comboio presidencial.
Eram as
pequenas coisas;
Era o
óbvio, era o normal.
RECOMEÇOS
Há uns
passos falsos dados
Que me
causam calafrios;
O
recomeço é uma estrada solitária,
É um
caminho vazio.
Há coisas
que não têm jeito:
Uma pedra
no caminho,
Alguém
que bebe sozinho,
A espada
de um “não” no peito.
Fechar
meus olhos às falhas
É como
abri-los para o infinito,
Pois
humano perfeito é maldito,
E
benditas são as migalhas.
Meu nome
é João da Sanfona,
Homem
sério, filho do sertão.
Não
importa quanto bate o coração:
Vida e
morte se completam na honra.
MAÇÃ
VERDE
Corre
contra o tempo, simplório camarada!
Que
maravilha é esta geração Maçã Verde.
Na
bandeja do teu café tem o jornal da noite.
Tu
nasceste ontem e cresceste quase nada.
Está tudo
bem, embora nada funcione.
Ninguém
mais acredita no lobo-homem,
Embora
hoje, definitivamente, ele exista.
Quem não
vê varrerem as conquistas?
O sangue
do pobre é o detergente da calçada,
Quem se
importa, isso não é nada.
O terno
do nobre vem do cofre municipal;
Isso nem
é mal diante do ser
Que
depois de verde já apodrece.
SENTINELAS
De gota
em gota cai a chuva.
De gota
em gota cai meu coração.
Se cada
gota floresce o chão,
Cada
queda dá-me mais vida.
Quedas
todas cada uma delas
Foram marcos
e revelaram
Como da
semente brotou galhos
E em cada
galho nasceram grãos.
Uvas, sucos e luvas usam as sentinelas
Em todo o
vão que lhes é confiado;
Muros e
pedras são lembranças delas
E todo
macho ali enamorado.
E em todo
acho tem vapores frios
Como em
certos causos também tem
Todo
trapo tem uns velhos atos
Assim que
mato bichos têm
LÁGRIMA
VERMELHA
Sabes
daquela lágrima azul?
Em breve
estará vermelha.
O Maligno
do sonho despertará vencido.
Os ramos
da roseira brava que está em teu jardim
Será um rubro
anel a laurear a minha testa.
Quem
fez-me um tapete na festa
Ver-me-á
distante, caminhado nas pedras.
Olhai bem
aquele monte
Pois é
pra lá que eu caminho
Vês ali
aquela árvore?
Ela
morrerá por mim.
Todo esse
chão em que eu piso
Pertence-me
e o verás
Abrir-se
todo em dois
E os dois
mundos se dividirão
Pois por
eles, eu sou mártir.
FRÍVOLOS ETERNOS
Hoje temo
tanto pelos meninos pálidos.
O último
e o primeiro das carteiras do colégio.
Aqueles
que usam óculos e por trás das lentes
Assimilam
o mundo e se alimentam dos livros.
Temo por
esses meninos calados,
Por esses
tímidos e retraídos,
Pelos que
se escondem.
Temo
tanto sem saber a razão,
Porque os
filhos da razão são suicidas.
Os filhos
da verdade são os mártires
E os reis
estão grávidos das mentiras.
Meninos
mal criados e mal entendidos,
Mal
explicados e mal queridos;
Mal do
novo século, os solitários,
Espectros
de deuses modernos,
Anjos
despenados nomes da história
São
frívolos e são eternos.
Tenho uma
coleção de Anjos despenados;
Uma
quantidade de Frívolos Eternos.
Tenho à
memória outros tantos
Engenhos
engenhosos da natureza,
Coisas
pensantes e idealizadoras
Pelas
quais outros temeram
E nenhum
deles tornou-se livre
De seu
destino final.
SEM
POEMAS
Até me
parece um tédio:
Dei meus
últimos suspiros poéticos,
Nenhum
som mais provem da imaginação;
Parece-me
que as vozes se calaram.
Vivo um
momento longo de maresia,
Que
nenhuma poesia nasce em mim.
Não há
visão de lua cheia,
Nem
beirada de mar
Que me
inspire escrever
Um poema.
Um
poemazinho sequer.
Minhas
alegrias não são poéticas,
Minhas
angústias hoje não contribuem,
Meus
sonhos não valem tanto
Meus
desejos,
Meus
encantos,
Nada que
seja meu,
Ou que
esteja noutro.
Nada que
veja eu,
Nem que
me veja na estrada,
Tentei
durante noite e dia,
Mas nenhuma
poesia
Veio ao
meu pensamento.
Ó céu,
que angustias minha alma!
Forças
ocultas me fazem gritar:
Onde
estão tuas ações
Que não
me sobe ao coração
Uma
vontade de poetizar?
Vós,
dores dos poetas
Desilusões
dos amantes,
Imagens
surrealistas,
Tudo
aquilo que antes
Fazia de
mim um poeta!
Estou
como o fenomenal atleta:
As pernas
tortas e a boca aberta,
Mal
casado e sem bicicleta;
Não tenho
paixões,
Nem
amores impossíveis;
Não tenho
arrependimentos,
Nem medos
indivisíveis;
Não tenho
tristezas e nem alegrias,
Nem a
solteira nem a casada,
Não tenho
romances nem poesias.
Tive
tanto e não tenho nada.
O
REINO CAÍDO
Ninguém
quis saber porque as folhas secam,
Mas como
folhas todos padecemos.
O verão
maldito pelos campos se alastra,
Vede,
porém, que não é por isso que morremos.
Honrem,
por misericórdia, a dor dos desvalidos,
Notem que
já os deuses entre si discordam,
Que o
problema destas mortes vem lá das raízes;
As pragas
dos cupins corróem e as devastam.
Toda essa
desgraça surge da cegueira,
Da
abstinência da ação refletida.
Em cada
esquina há alguém a olhar o que passa.
Escutem
inertes ao ecoar dos sinos fúnebres
É a nota
de falecimento da esperança.
Quanta
ânsia debaixo dos céus!
Nos
guetos imundos já não se cabe
Toda a
miséria acumulada;
E toda
forma de penúria sobe ao palácio:
Reis e
príncipes apodrecidos,
Hostes e
arquirrivais armados,
O cenário
triste de um poder vencido.
Foi o mal
do século a peste negra?
Quem
derrubou o reino que se dizia forte?
Súditos
ignorantes dominados pelo Norte
Ou a
arrogância de quem tinha o trono erguido?
VERBOS
Olhar
Porque
tudo começa nos olhos.
São os
olhos as portas da alma
E o
coração válvulas de escape
Por onde
fogem sorrisos
Em
pulsações calmas.
Querer
Sem que
seja o querer de posse.
Querer é
verbo de gratidão.
É gosto
que se deseja ter
Repetidas
vezes
Como
sorte.
Sentir
Sendo bem
mais que um toque,
O sentir
é mergulho profundo.
No fundo,
sentir é coisa
Do outro
mundo.
É
ascensão.
RETALHOS
Talhos em
tua pele.
De preto
são os retratos.
Até
aceito as migalhas.
Não se
faz excomunhão com alho.
Toma as
rédeas dos cavalos.
Liderar
é quase sempre
Mediar
conflitos ardentes
Entre
Deus e o Diabo.
Não quero
ouvir nada.
Dá-me teu
sorriso
Que estou
em farrapos;
Dá-me teu
sorriso
Que o
resto eu consigo
Emendando
os retalhos.
EPÍGRAFE
N º 01
Andei no
mar.
Naveguei.
Meu
coração estava lá,
Chefe das
marés,
Nas
noites frias ao luar.
Eu
naveguei pelo mar
E por lá
fiquei.
Estou no
mar.
EPÍGRAFE
Nº 02
Amanheceu
em mim
O mesmo
dia de ontem;
A mesma cara
de morte,
A mesma
fadiga de outrora.
Cansa
este corpo de se levantar vadio,
De se
prostrar na janela da frente,
De ver se
repetir a mesma reza
Ou de
ignorar tudo que vê.
EPÍGRAFE
Nº 03
Quando
andar perdido
A teus
olhos o filho que tens,
Perdida estará
com ele,
Tua alma
vagando também.
A lágrima
que desce em teu rosto
É chuva
que o molha na rua;
E tua
lembrança é força,
A força
com a qual resiste a alma.
EPÍGRAFE
Nº 04
Olha o
homem crescendo,
Construído
sua destruição;
Levanta a
casa de madeira
E destrói
o velho chão;
Anda na
fila da vida
Sem olhar
quem vem atrás,
Por isso,
com DEUS,
Os
últimos serão os primeiros.
EPÍGRAFE
Nº 05
Sorri ao
que se levanta inocente,
Ignorante
da hora que o cerca;
Abrace
aquele que chega,
Incapaz
de ler o momento;
Beije a
quem te admira,
Inábil de
sondar o sentimento.
EPÍGRAFE
Nº 06
Agora meu
coração está pronto,
Agora as
cicatrizes estão fechadas;
Já podes
me trazer de teu interior,
A força
das palavras que me rejeitam.
Como faca
afiada fere abrindo ulceração,
A dor da
indiferença dilacera o peito.
Novamente
rasgarás minha alma,
Abrirás
outra vez o estigma de dor curada.
Farás
assim, para que eu conte aos meus amigos,
Como o
amor me deixou em chagas.
EPIGRAFE
Nº 07
Donde
vens?
Aonde
vais?
Qual é
tua missão
Neste
mundo de horror?
Aquele
que fugir do terror
Poderá
ser levado pelo furacão;
E quem do
furacão fugir
Poderá
ser levado pelo maremoto;
E deste,
quem escapar,
A terra
pode se abrir,
O fogo
pode consumir,
A peste
pode matar.
E tudo
bem que escape,
Que fuja,
que se esconda,
Uma
paixão fará muito pior.
EPÍGRAFE
Nº 08
O fato de
nunca ter amado
Não
justifica a inexistência do amor.
Quem sabe
Deus não me quis
Um
amante.
Quis-me
sonhador.
E meu
sonho de repente me disse:
- Ah,
Deus, se eu pudesse amar!
MODINHA
DE SÃO JOÃO
Nas
chamas ardentes desta fogueira
Queime
sempre tua tristeza;
Faz do
nada tua beleza,
Destrói a
desilusão...
Quanta
festa há no nordeste
No dia de
São João.
Em se
falando de quadrilha,
Quanta
graça há nesta dança...
Que haja
sempre esperança,
Paz e
iluminação...
Quanta
festa há no nordeste
No dia de
São João.
A seca
aqui desta terra
Queima o
mato, mata o gado
Traz o
homem maltratado,
Só não
mata o coração...
Quanta
festa há no nordeste
No dia de
São João.
Se a dor
que é tão forte
Fosse
apenas de saudade,
Digo que
a calamidade
Seria de
solidão...
Quanta
festa há no nordeste
No dia de
São João.
O foguete
e a fogueira,
O
pratinho de canjica,
E não é
de gente rica
Que se
faz animação...
Quanta
festa há no nordeste
No dia de
São João.
AMOR
ON-LINE
Namorar
pela janela
Não é
coisa do passado,
Não é
poema rimado,
Não é
coisa de novela;
A janela
do meu micro
Está
sempre escancarada.
A
distância hoje é tão perto,
No
alcance do indicador,
No mover
do roedor.
No meu
quarto está o mundo,
Nossa
área de lazer,
Nossos
caminhos proibidos,
Nosso
leito de amor.
A rede em
que me ligo
Relaxa e
faz bem.
Não é por
necessidade
É por
prazer
E por
vontade
NÃO
IMPEÇA O MEU AMOR
Olho para
a estrada a esperar...
Passos
conhecidos eu procuro ouvir;
O jeito
entre a multidão é decifrável.
O perfume
do corpo é muito bom
Todos os
rostos da avenida me lembram você
E se vejo
caminhando tento me conter...
Mas a
verdade é que eu não consigo esquecer
Se à
noite chover eu vou pedir a chuva pra deixar você chegar
Chuva, ó
chuva, não impeça meu amor de vir
Não
impeça do meu amor chegar!
Não
impeça meu amor!
O
trânsito lá fora está um caos.
Pensando
nisso eu me sinto mal.
Tanta
tristeza invade a alma só de perceber
Que esta
noite eu corro o risco de não ver você
Chuva, ó
chuva, não impeça meu amor de vir!
Não
impeça do meu amor chegar!
Não
impeça meu amor
Não
impeça o meu amor
RUMORES
Que
venham:
A guerra
dos mundos,
O
suplicio das massas.
Deste
lugar já não duvido nada.
O trem louco,
desgovernado,
Corre
solto na linha do acaso.
A vida
jura que não tem culpa.
Eu peguei
o trem errado.
Barcos
penam lançados ao nada.
Os nobres
capitães navegaram
Num
oceânico mundo desvairado,
De portos
e faróis escuros.
Pestes se
alastram pelos campos.
Arrasta-se
o anjo da morte
Pelas
colinas dantes verdejantes.
Um olho
do espaço vê a terra ardente.
Os homens
se destróem por vingança.
O amor é
uma fera consumindo a gente,
E no poço
da miséria cai a turba na lama.
Os
fantasmas que governam a noite
Saem pela
madrugada enluarada
A
assombrar as hordas.
Por isso
me cerquei de grades,
Fechei a
porta da minha vida;
Fiz no
arranha-céu minha morada:
No céu
está o meu quarto.
Dentro da
cidade,
A casa
que moro é uma cela.
Vê? O céu
é coisa rara!
Há nuvens
negras em pleno dia,
Há ondas
quentes no inverno,
E no
verão há ondas frias.
Quem crer
em Deus se apega à cruz,
Vai
seguindo pro calvário;
Já quem
não crê vai por acaso.
OUVINDO
O SILÊNCIO
Para
abreviar a fábula desse amor,
Dizer que
ele foi um lance sem alvo,
Um querer
abstrato e inconsistente.
Mas foi
tão bom sentir o perfume
O corpo
macio atingido de leve
Com as
mãos apaixonadas
Que
sempre te amaram.
Não posso
continuar te amando no escuro
Investindo
alto num sentimento desconhecido
Acreditando
que em tua indecisão
– se queres ou não
Poderias
dizer sim
O que não
dizes nem mesmo o não.
E eu ouço
o silêncio,
Eu nunca
te pedi palavras doces ou boas
O que eu
precisava entender não disseste.
Irresoluto
prossegue me olhando se cala.
Penso que
não haja verdade em tua alma,
Pois um
coração não claudica em dois mundos.
Pode ser
que o amor seja um sentimento elegante
Que por
ele se lute pra conquistar mil bandeiras
Que por
ele se abrace o caminho mais longo
E se
chegue bem perto tendo andando distante.
O que me
desespera é te ter do meu lado,
Olhando
calado sem saber o que quer.
E não me
diga agora que eu sou apressado
Pois eu
já fiz de tudo que meu amor pediu pra fazer
Já olhei
da janela esperando te ver
Já
caminhei pelas ruas querendo te encontrar
Eu já te
mandei flores
Cantei
rimas e versos de amores
Fui o
idiota da vila e o bobo da côrte
Aprendi
teus poemas e teus jogos de azar
Fiz as
honras da casa pra te encantar
Te fiz
não duvidar do que sou capaz
Pra te
fazer feliz
E
pergunto por fim, se tu queres de mim
O amor
que eu sinto e que quero te dar
Poderias
dizer sim já que não dizes que não
Poderias
dizer não se não queres que sim
Titubeante
me olhas
E eu sou
obrigado a ouvir teu silêncio.
Ou
somente um “talvez”.
RECORDAÇÕES
Não
importa o tempo...
Restos do
momento passado
Enquanto
o rosto transfigurado
Passeia
pelas ruas sem destino.
Meu Deus
eu lembro de quando menino
Andava
descalço e cheio de brilho no olhar.
Ainda
recordo dos males que não duravam,
Ainda
recordo de esquecer a dor com o riso.
Fui me
perdendo assim em nome de um sentimento
Que
alguém chama de amor;
Em nome
de uma infelicidade
Que
chamam de saudade;
Em nome
do coração
Que
chamei de bobagem.
Nem
sempre as coisas são como gostaríamos,
Nem todo
querer está em nossas mãos,
Mas quem
me dera agora ouvir uma voz rouca
De quem
se diz forte o bastante
E
suficientemente corajoso para existir,
Certo de
ter que enfrentar tudo e todos
Dentro de
um universo de contradições.
Meu Deus,
eu ainda me lembro da ternura,
Uma
límpida alma insegura,
Abordada
pela assombração da realidade
Que de
repente me arranca do sossego infantil
Lançando-me
nas tenebrosidades dos acasos
Histórias
de destinos incertos ou perigosos.
Lembro
ainda da cadeira de balanço,
Do
descanso no tenro colo materno;
Do bolo
de feijão da mão de mãe.
Quem me
dera poder voltar...
Qualquer
coisa que eu pudesse daria
Para quem
sabe um dia
Voltar a
ser menino.
LIBERDADE
Em todo
homem há uma águia
Toda
águia quer ser livre
A liberdade
quer ser fonte
Toda
fonte quer ter água
Toda água
quer ser doce
Doce
mesmo é a vida
A vida
ainda quer ser plena
A
plenitude quer beleza
Toda
beleza quer ser vista
Toda
vista admirada
Admiro a
estrada
A estrada
quer ser seguida
A
seqüência é perigosa
O perigo
é sempre um risco
O risco é
meio torto
Todo
torto quer ser certo
Todo
certo é mentiroso
A mentira
é coisa feia
A feiúra
é relativa
O
relativo é dominante
O
dominante é corajoso
A coragem
nos liberta
A
liberdade é uma águia
Toda
águia está no homem
Todo
homem quer ser livre
PEDAÇOS
Quantos
pedaços terei que juntar
Deste meu
velho e bom coração
Esmigalhado
pelo amor?
O amor
vem chegando sem pedir licença...
Vem
fazendo bagunça na alma,
Sem
perder tempo vai derrubando
Todas as
nossas defesas.
Quanto do
pouco de vida me resta
Que eu
não derrame sobre o travesseiro
Por um
pouco mais de um olhar?
O olhar
vem me queimando a pele,
Arde,
flameja, cintila, ofusca;
Cresce no
tempo e o indivisível
Torna-me
um ser errante
Que vaga
sem medo e sem culpa.
Quanto de
sonhos perdidos.
Sonhar é
antigo;
A moda é
ficar.
Quanto
desejo banido,
Desejo
fingido,
O certo é
viver.
Quanto
querer inibido,
Querer é
bonito,
Melhor é
lutar.
PLENITUDE
Sonhar?
Não!
Viver a
vida em plenitude
Imperfeita
sim, mas completa.
Sorrir?
Não!
Desenhar
a vida com graciosidade
Nos
traçados do rosto.
Agir para
bem do amor;
Não viver
de aparências;
Não
alimentar desconfianças;
Não se
entregar por carências;
Se tiver
de ser,
Fazer ser
como se fosse a última vez.
E se não for
possível,
Não
mentir aos olhos
Para
enganar o coração.
Chorar no
espelho? Não!
Deixar-se
ao chão.
Descer.
Do
pútrido surgem diamantes
Do fétido
crescem árvores
Transformar-se
Exagerar-se,
expandir-se.
Alimentar-se
ou devorar?
Ambos!
Cada um em seu momento,
Porque
perfeitos são os deuses
E os
filhos deles: imperfeição.
A
eles o amanhã
Aos
homens o agora
Se for
possível o sim, não seja o não.
Se for o
não, nem tente o sim.
Se tiver
que ser,
Assim
será.
MENINO
DE RUA
Por que
não questionar:
O trono
do rei felino
O céu
azul, o verde mar
E a
calçada do menino?
Vi na rua
umas meninas
Cantando
canções de amor,
Gritando
a vida inteira
Como o
ronco do trovador.
Canta,
canta criança,
Embora a
vida ande nua,
Ainda há
esperanças.
Canta o
dia e em noite de lua
A barriga
vazia dessa gente
Pobre que
mora na rua.
MORTE
LENTA
Meus
tolos devaneios
Saltitantes
sobre as serras
Busca ver
nestes lugares
O lugar
pra se encontrar.
Lento é o
olhar que caminha
Seguindo
o horizonte cinzento
De campos
secos
E vidas
falidas.
Segue o
vento em disparada,
Evaporando
a esperança;
Divaga em
lenta caminhada
Envergado
o homem do sertão.
Todos os
meus pensamentos
Corriqueiros,
delirantes,
Entrecorta-se
pelos campos
Rodeando
os arvoredos
Que morre
devagar.
Onde
estão as gramas verdes
Que hoje
ao sol arquejam
Numa
morte lenta e dolorida?
O
problema dessas mortes
Não é o
ultimar da existência
É que os
corpos secam...
E com
eles a esperança.
A
RESPOSTA
Não tenho
mais poemas
Pra te
dizer, ó grande mar!
Não tenho
mais poemas pra te dizer.
Não tenho
mais palavras belas,
Nem
pintura em aquarela,
Nem
esculturas de cristal.
Já não
tenho um rosa,
Nem
tampouco um anel.
Espero
tua resposta como a águia quer o céu,
Como o
peixe quer o mar,
E a noite
o luar,
O casal
que quer amar.
Diz que
me queres
Diz que
me amas
Diz-me
algo bom
Para que
minha alma se alegre
Que me
queres, que me amas...
Diz algo
bom para que eu me alegre.
SUSPIRO
INSÓLITO
Queria
olhar o céu em noite de luar,
Queria ver
estrelas cintilantes no infinito,
Ver piar
a coruja rasgando os céus
E sentir
no rosto a brisa fria
De uma
noite de verão.
Mas os
céus hoje são negros,
A lua e
as estrelas são pálidas
E o ar
cálido que vem a meu rosto
Traz-me
ânsias de vomição.
Ainda ontem
pela madrugada
Cantava o
galo no meio da estrada
E nós,
miseráveis, acreditávamos
Na
esperança do sol nascente.
Vê-se
logo que hoje o sol nasce no poente
E que a
noite sobre os olhos
Não tem
hora para findar.
Não há
luz no horizonte que ilumine.
O fundo
do túnel é o começo de um abismo
E não me
ponham um fundo musical.
Angelical,
gregoriano ou fúnebre!
Que a
passagem pelo caminho de pedras,
Pelas
trevas de um destino triste,
É quimera
a quem não vive,
É moleza
a quem não sente.
Não foi o
começo que desejei,
Não é o
fim com que sonhei,
É o
começo do fim,
No
princípio do nada;
É um galo
calado de madrugada.
Abismo em
fim de túnel,
Suspiro
insólito,
Ponte
quebrada.
TODO
POETA É TRISTE
Para
Marosa Helena
Meu
caminhar é solitário
E o meu
destino está
Envolto
em sombras.
Sigo por
seguir.
Um poeta
sofredor
Desvendando
segredos guardados
Nos
cofres da eternidade.
Filósofo
errante que mente,
Pelo belo
e prazeroso
Sabor da
mentira.
Como um
trago de fumo
Gostoso e
desejado ao viciado;
Tal qual
a ânsia do escarro,
Ao trago
do velho cachimbo.
Vou indo
por ir.
Um poeta
miserável
Guardando
os mistérios
Das
mentes medianas,
Da
mediocridade humana.
Semelhante
ao gado no campo
Que come
sem escolher o capim,
Sem
distinguir a celulose em forma de papel
Do mato verde,
cheiroso e fresco.
Ando por
andar.
Um velho
poeta triste
Fazendo
poesia como o sal:
Tão útil
e tão barato.
E todo
poeta que existe
Neste
mundo, vive melancólico
No
pêndulo de uma vida triste;
Todo
poeta é infeliz,
Todo
poeta é triste.
ANDARILHO
SONHADOR
Olha, lá
no fastígio dos montes,
Já
declina o sol e desvanece o dia.
Segue
agora os meus pés vacilantes
Pelas
calçadas frias da cidade.
A
solidão, fiel companheira,
Segue-me
a passos lentos pela estrada
Que
procuro depois do fatigante trabalho
Das horas
intensas de ensinamentos,
Do
compreender a muitos
Sem ser
ouvido.
O que
procura meu corpo se já está cansado?
O que
deseja a alma se já se esmorece?
Por que
pergunto a mim as coisas que já sei?
Verdades.
Doloridas verdades me incomodam.
Fecho os olhos
para algumas verdades
E mais
tarde sei que sofro por negá-las
Vejo um
olhar brilhante em minha frente
Que se
despeja em mim como um turbilhão de esperanças
Vem um
ânimo que me torna forte
E espero
encontrar no silêncio deste olhar
Um
suspiro quente e ofegante
De um
desejo comum.
Sonhos.
Puros delírios noturnos.
Há
olhares que não brilham,
Mãos que
não carregam flores,
Pés que
andejam a caminho oposto
E eu sou
um poço de devaneios.
Apenas
cães, vira-latas solitários,
Dividem
comigo o vazio das avenidas
Uivam
para a grande lua,
Perseguem
outros felinos;
Ladram
com as folhas secas
E acham
um chão morno pra deitar.
Os ventos
cochichando em meu ouvido
Diz-me
que é tempo de andar;
Sou eu um
andarilho sonhador a buscar paradas...
Quem sabe
na próxima encontre o que busco,
O que me
completa e que me faz forte.
Parece
infinito o caminho,
Mas sei
que tem fim;
Talvez
não seja o fim da estrada,
Mas pode
ser minha última parada.
ERRO
Apostei
na vida que perdia;
Que
ganharia a vida se a perdesse,
Que
tornaria o dia menos triste,
Que já
tudo seria como dantes.
Falhei na
aposta,
Falhei na
vida,
Deveras
jamais errei.
Errar não
é humano, é tolice,
Somente
me engano, embora.
O erro é
o que não se corrige.
É o
engano que se repete,
O lixo
humano que não se recicla.
SE
DEUS ME DESSE VOCÊ
Se Deus
me desse você
O que
posso dizer
É que
seria feliz.
Meu amor
floresceria
E não se
perderia
Na curva
vazia dos sonhadores.
Em uma
jazida de flores,
Jorrando
em rios de amores,
Pelas
veias de nossa existência
E ao som
do seu brado,
Meu corpo
extasiado
E sonhos
perfeitos,
Acima dos
seios,
Das
cinzas eu ressurgiria.
E todos
os meios possíveis,
Sim tudo
o que fosse possível,
Para ter
tua sombra comigo,
Sem nada
que pudesse esquecer,
Se Deus
me desse você,
Todo o
possível eu faria.
Pode até
não ser como eu gostaria,
Já não
iria chorar, eu sorriria.
Iria
caminhar visionário ao encontro da lua.
Taparia a
boca dos meus inimigos.
Fá-los-ia
permanecer calados.
Derrubaria
da praça o banco dos namorados,
Para
construí-lo à frente de minha casa.
Talvez
amor seja o coração parado,
Talvez
paixão seja sangue derramado,
Visto que
a mente vaga tremulante.
Alem do
brilho do teu olhar
Não
cintila mais nenhuma luz;
Alem do
gosto de tua boca,
Não se
sente mais nenhum sabor;
Alem de
pedir a Deus você,
Não há
mais nenhum pedido.
ÊXODOS
ETERNOS
Quando
cintila o sol por entre as serras
No meio
da escuridão que se dissipa,
Se ouve o
fofar do chão,
O grito
dessas pedras,
Bem antes
que o sol queime.
Quando
ainda o bebê na cama
E o
passarinho lá no ninho sonham,
Rasga-se
a mão do sertanejo;
Desce o
suor pelo seu rosto
Bem antes
que o sol queime.
E se o
ranger da lenha
Que o
machado castiga ferrenho
Não se
ouvir
– ao sol que queima
Há de
sossegar o fofar da terra,
O grito
rude dessas pedras
E a mão
rasgada descansar.
Um olhar
tristonho no destino,
Gosto de
fel e dor no último beijo,
Deixará
novamente sua terra
Em um
novo êxodo
(In)feliz
sertanejo.
NUMA
MANHÃ DE SEXTA-FEIRA
Numa
manhã - recorda a pobre
Espinheira
do caminho:
Quem
diria serem seus espinhos
Os
protagonistas de uma triste cena?
Numa
manhã recorda um passarinho:
Quem
diria estar em seu ninho
Entrelaçados
tão poucos espinhos...
Porque
não pegara mais?
Era uma
manhã de sexta-feira;
dizia um
menino sonolento:
Tão
preguiçosa e vazia,
Uma manhã
que lembrava o fim do dia.
Era uma
manhã sofrida, talvez sim.
Um dia
que temia nascer, quem sabe?
Dolorido
ainda era o soprar dos ventos,
E
pensaram tristes: é um dia infeliz!
Mas era a
mais feliz de todas as manhãs.
E o sol
brilhou sem medo,
Intenso
como nunca fora,
Quem sabe
ainda mais ferrenho
Do que em
outros dias.
É que se
erguera Um Valente
Pra lutar
com a morte
E
vencê-la.
SAUDADES
Aos que
ficarem
Àqueles
por quem agora chora o meu coração
Quero
deixar um adeus festivo.
Foi muito
bom ter estado com todos vocês,
Foi bom
ter falado,
Foi bom
ter ouvido.
Quando me
fluírem lágrimas,
Na
escuridão da distância
Que vos
esconde de mim,
Vou abrir
um álbum e ver
Os
sorrisos,
Os abraços
amigos,
Os beijos
de gratidão,
Os
apertos de mãos calorosos.
Vou tirar
da bagagem que carrego
Vosso
carinho,
Vossa
compreensão,
Vosso
abrigo,
E guardar
tudo no peito
Antes de
prosseguir.
É que ao
olhar para trás eu não vejo mágoas.
Vou me
perdoar pelos erros e dar-me outra chance.
É prova
de que sou humano
E de que
estou vivo.
Então
terei certeza que foi pra valer!
Que tudo
valeu a pena.
Que esta
saudade que aperta meu peito,
Dói de um
jeito feliz;
Do jeito
que eu sempre quis,
Inexplicável.
DISTÂNCIA
Não vou
olhar teus olhos
Fingindo
que não vejo.
Não vou
mentir de perto
Fingindo
estar longe.
A porta
que me abre a luz do teu olhar,
Decerto é
a saída por onde não vou passar.
A estrada
por qual caminho,
Tu jamais
irás pisar.
Tu és a
pedra que o destino não deixou no meu caminho.
És a rosa
sem espinho que eu não vou possuir.
Causa sem
conseqüência,
Uma
expressão sem rosto,
Sim, és o
que quero e não mereço.
Em todo
fim há um começo.
És o
sonho perto que está longe.
Tu és o
começo do meu fim.
COMETA
E voaram
Os sonhos
Ao infinito.
Tu o levaste de mim, contigo.
Eu nada mais contive...
Tanto sonhei realizá-los todos!
E em suma, nada mais me resta.
Quão tristes as vidas sem os
sonhos!
Somente as lembranças não voam:
A saudade não segue o infinito.
Eu fico acordado em sofrimentos.
Não durmo: vejo as estrelas.
Fecho os olhos pra realidade!
Não sonho. Não há sonhos.
Tento um despertar num mundo
perfeito!
Em tua casa distante, mas...
Estou fisgado à terra.
Talvez existo por existir!
É tudo que em mim ficou,
Deste revoar de sonhos
Que tu levaste ao infinito.
SEUS
OLHOS
A Nanty
Teus
olhos reluzem
Como
estrelas cadentes
Como o
sol no poente
Refletindo
no espaço
Sobre as
águas do mar.
Teus
olhos são puros
Como os
filhos das aves
Nos
penhascos seguros
Dos
predadores malignos
Devoradores
reais.
Teus
olhos intensos
Dilatam o
tempo
De desejo
entre nós
Como voo
do condor
Tornando-nos
cativos
De etéreo
amor.
O
POETA COMPLETO
A Drummond, em seu centésimo aniversário.
Quando
achei que tua ausência era falta,
Faltei,
confesso.
Não há
ausência em ti.
Estás, no
meio das horas e sempre,
Potente e
onipresente,
Eternizado
nos versos reais,
Ausente
de ti,
Talvez;
E, de
nós, inteiramente,
Presente.
E ninguém
te parou
Nem a
pedra que havia no meio do caminho,
Porque
estás preso à vida,
Nem a
grandeza do mundo
Do mar e
do amor
Encobriram-te.
Falastes
de tudo e de perto:
Do mais
belo oásis, ao mais quente deserto,
E
tornastes uma pessoa imortal
Decerto,
um poeta completo.
AS
CANÇÕES
Todas as canções
que eu ouvi foram misteriosas,
Todas
atravessaram um portal em meu interior,
Foram
profundas.
Todas
pisaram as terras virgens do meu ser.
Desvirginaram-na.
Enquanto
um vazio absoluto,
Um clamor
absurdo,
Um longo
soluço,
Estiveram
mudos,
Estive
surdo.
Depois de
manifesto o ultimo sofrer
Todas as
canções eu as ouvi
E todas
elas me viram nu
Despido
da proteção das estrelas
E do
fulgir dos cometas
E as vi
em meu cerne a buscar
Meus mais
íntimos tabus,
Minhas
vergonhas íntimas,
E
despiu-as também (que bom)
Nus, os
tabus, as vergonhas e eu,
Entendemos-nos subjugamo-nos.
Todas as
canções que já ouvi
Fizeram
assim.
O
GRITO
Acorda
tua virtude
E sai
pelas ruas...
Enxerga o
destino das mentes
Que se
vão ao azul infinito e ao sol
Nos ares
em celeste amplitude
Sem
encontrar um lugar no horizonte,
Ou mesmo
o jazer lógico das sementes.
Quem
seguirá tuas virtudes no espaço existente,
Que de
tão complexo limita o universo,
E de tão
vasto esgota o clamor de meus protestos?
O meu
pensamento que me parece tão distante,
Tão
indefeso e incerto,
Ronca nas
madrugadas, rua afora.
Ó virtude
desistida!
Fostes
demitir-se da vida?
Agora não
fazes brilhar a razão.
Que a
nossa morte seja um plano superior de resgate:
Ou
descansaremos libertos pela razão da existência,
Ou
morreremos decerto sem esta dor na consciência.
Mas seja
cedo, não muito tarde,
Quando já
se embale sonolenta a mente
E o corpo
por trás das grades.
CASA
SECRETA
Perdi a
chave do meu coração.
Quem a
achou?
Não sei
se num vôo caiu e num profundo mar se perdeu
Ou no
jardim de uma casa esteja junto às rosas
Talvez a
perdi no pátio da escola...
(...)
Quem
invadiu o meu interior?
Quem
despertou meus sentimentos?
Ah, a
chave foi achada. Que bom!
Pode me
devolver?
Esta
chave me pertence.
Com que
direito adentras meu interior?
Entra e
sai sem ver que estou aberto.
Tranca-me
a porta, pois nada tenho a oferecer.
Sou
apenas um cômodo vazio
Uma mesa
e três cadeiras
Numa está
minha fé
Estou
noutra
E há uma
vazia.
Meu
coração agora está aberto
Quem se
sentará à mesa?
Você?
O
PÓ DA TERRA
Queria
saber deste solo quente,
Desta
palma em chamas,
Destes
galhos secos,
Quanto
tempo resta à última vela
Pra se
apagar finalmente?
Queria
ouvir desta ninharia,
Desta
covardia,
Deste ser
que geme,
O rouco
som da vida e saber
Quanto
tempo resta ao sopro derradeiro.
Ó céus
áridos!
Cálido
vento que rechaças a terra.
Quanto
tempo resta ao sopro derradeiro?
Por onde
voa a fênix da eternidade,
Para que
eu beba em vinho tinto
Suas
nobres cinzas
E reviva
desta inércia mórbida
Que me
prende ao barro seco
Destes
meus lugares?
Agora já
deixei ir a multidão...
Não há
porque haver mais velório.
A sangria
já resvala ao tíbio esplendor do dia,
O
ferrenho sol seca toda a ferida,
As chagas
deste chão já vão se desfazendo,
O vivo,
sem dó, vai morrendo, e o morto,
Subindo
deste pó, vai vivendo.
CORAÇÕES
VAGABUNDOS
Ó céus!
Como
sofrem os amantes perdidos
Por esse
mundo estranho perambulando,
Sem
conceitos de si e destino de vida!
Vejo os
olhos vagando na vastidão dos campos
Desejando
o vislumbrar de sua alma querida.
Dize-nos
tu, que és de cima,
Se a
ilusão que migra o ser disforme
Conforme
vagabundeia sem fim,
Pode, por
piedade, dar cabo a si,
Fazendo
de seu vagar a morte
Como a
luz num ermo medonho?
Ouvi na
voz do silêncio,
Este som
que na alma voa,
Que tens
um acordo comigo
E que não
vivo à toa...
Fiz minha
cama neste navio,
Hoje eu
viajo na proa,
Amanhã eu
nem cruzo o rio.
Ouvi
dizer que vós, deuses dos mundos,
Onde
andam os meus sonhos, sabeis!
Somos
nós, corações vagabundos,
Almas a
submergir no vazio,
Nos
desencontros,
Nos
imprevistos,
Ou sem
clareza de entendimento,
Sem uma
luz de pensamento,
Sem uma
razão de existência,
Nunca se
percam nem se separem
Quando
nunca se cruzaram
Em um
mesmo destino.
IRONIA
Irônico
foi pensar em ti o tempo inteiro.
Foi
sonhar com a cor dos teus olhos,
Foi
imaginar o sabor dos teus beijos,
E agora,
em tua frente,
Não sei
nem dizer um oi.
Irônico
foi acreditar no sonho,
Levar fé
na imaginação,
Ter-te o tempo
inteiro,
Nos
instantes do pensar.
E agora,
a teu lado,
Estremecer
de confusão
Nem saber
o que falar.
Irônico
sim, e mais ainda:
Desejar
teu corpo inteiro
E, te
vendo junto a mim,
Nem saber
o que fazer,
Não dizer
o que eu quis.
Tinha uma
abordagem ensaiada,
Tinha uma
linguagem bem bolada,
Tinha um
sorriso bem faceiro.
Seja Deus
e o mundo inteiro,
Hoje
minhas testemunhas,
Que não
foi sem sentimento,
Que não
foi sem alegria,
Que te vi
naquele dia,
E te quis
o dia inteiro.
Só na
hora que tu estavas
Do meu
lado e me olhavas,
Foi que
me senti estranho;
Veio-me
tanto contentamento
E todos
os meus pensamentos
Atolaram
o desempenho.
Nem saiu
uma palavra;
Um
sorriso foi tão tímido,
Uma voz
tão embargada.
Somente
meu coração,
Saltando
dentro do peito,
Falando
sem palavras.
SEM
VOCÊ
Essa
noite se você
Não
estiver ao meu lado...
Vou
sofrer,
Vou
querer
Mas vou
ficar calado.
Essa
noite vai ser longa
Se você
não estiver aqui
O meu
corpo vai tremer
Por ficar
distante,
Mas vou
ficar calado.
Vou
manter meu coração
Cada vez
mais ocupado;
Enganar
meus sentimentos
Que
querem você a meu lado
E ditar
ao inconsciente
Que a
vida não é triste,
Que não
se vive do passado,
E que
você já não existe.
Vou
acalmar meu coração,
Vou
deixá-lo ocupado,
Vou
permanecer calado.
Essa
noite no meu quarto,
O Roberto
não vai cantar,
Vou
curtir o Legião,
Vou sumir
pelo espelho,
Vou sair
pela tv.
Esta
noite sem você
Quero
ficar escondido...
Não
importa o que digo,
Nem
tampouco o que eu ouço,
Quero
guardar o meu frio,
Quero
fingir um sorriso,
Quero
esquecer o teu corpo.
COLORIDO
Ser este
tipo assim
De gente
em meio-tom,
De alma
fria em corpo ardente,
É
maquiagem sem batom;
É
parecido com o diferente.
O que
vêem em mim?
A
complexidade pueril ferida;
Colagem
de recortes de aparências
Indefinidos
como caminhos de serpente.
É como o
clarear do sol
Sendo
mesmo o adormecer do dia.
E vou
andando, enfim,
No corpo
o rosto erguido,
Outro ser
destilando encanto.
É como um
filme colorido,
Em
gravações da própria ausência
Que se
revela em preto e branco
Num longo
grito de socorro.
Em tudo o
que é festa existe
Um
caminho de ida, outro de vinda.
O amargo
é o gosto dessa solidão,
Sempre
que dela volto desbotado.
A festa
não é o colorido alegre das meninas,
Nem é dos
meninos o colorido triste.
AMIGO
Meu bom
amigo
Não estou
disposto
A
escrever os versos simplistas
De uma
vida normal.
Não nasci
tristonho,
Não nasci
errôneo,
Nem
cresci perfeito;
Não
pratico o mal.
Não sou delinquente;
Sou
fugitivo das rotinas.
Meu bom
amigo,
Não te
faço de escada,
Não tenho
uma namorada
Pra
chamar de meu tesouro
E agradar
aos outros
Pra não
ser anormal;
Desconheço
a vida assim...
Felicidade
é, pra mim,
Momentos
bem vividos;
E quem
vive ausente
Do mágico
presente,
Nem sabe
que está perdido.
Meu bom
amigo,
O beijo
amargo é o mais contrito
A solidão
é mais exata;
Vencer
conflitos e não se ater
Vencido
Nem
destruído
É coisa
cara...
OUTRA
VEZ
Quem me
dera que tu fosses visão,
Sonho,
fantasia, imaginação;
Coisa
passageira, chuva no sertão.
Quem me
dera tu fosses só ilusão.
Não sei
mentir, nem posso...
Fugir do
destino num autoengano
Quem
neste mundo se esconde?
Fácil é
iludir os olhos com um rosto risonho.
Asas,
quem me dera tê-las,
Para
passar distante do teu coração
E ainda
que cego eu fosse, poderia vê-las,
Tuas mãos
me levando para a perdição.
ANTES
DO AMANHECER
Uma
florzinha se abre devagar,
Uma
criança chora sem querer,
A
borboleta rasga seu casulo.
Uma
senhora se põe a cantar,
O poeta
se propõe a escrever,
O mundo
vai deixando o lado escuro.
Tudo isso
se pode perceber,
Perto do
fim da noite,
Antes do
amanhecer.
Levanta o
marruá na fazenda,
Andeja
pelos campos sem destino,
Bem fazem
seu dever – os passarinhos,
Comendo e
vivendo sem ter renda.
O trabalhador
que segue seu caminho
Não temem
o labor e seus espinhos
Tudo isso
se pode perceber,
Perto do
fim da noite,
Antes do
amanhecer.
CANTANDO
PARA UMA ESTRELA
Hoje eu
quis olhar o céu
Cantando
para uma estrela
Era de
ceda o vestido
E a mesa
se cobria de renda
O tapete
da sala era marrom
Vermelho
era a cor do seu batom
Quis
dizer a ela palavras de meu coração partido
Falei em
uma canção das vezes que quero ir e fico
De quando
indo – vou me deixando um pedaço
Momentos
que me olho e vejo que me falto
De quando
eu rio de coração soluçando.
As
controvérsias cantei nos meus versos,
Quando eu
peço e vou lhe dando
Meu
endereço escrito ao inverso
Umas
noites daquelas que parecem dias
de fulgor
irradiante e recital de poesias
Uns dias
daqueles que parecem noites
de tanto
horror, tragédias e dores.
Fiquei
cantarolando para uma estrela
Dizendo
palavras que parecem bobas
Como quem
não tem nada a fazer
Tipo de
gente que tem pouco a dizer
Mas eu
disse bobagens boas
Tolices
elegantes.
Gostosas
ingenuidades distraíram-me hoje
Fui
cantando em tons diferentes o mesmo refrão
Falando
as mesmas coisas em diversas canções
Aproveitando
os sinônimos da língua e suas redundâncias
Para
aclarar o rosto da noite sombria
E dá-la
de presente à estrela mais carente
Que,
geralmente, nasce no poente
E tem
vida curta.
PÁSSAROS
E SOLIDÃO
Aquelas
andorinhas voando
Seguindo
o sol no poente
Com medo
da noite que vem
Na
direção dos homens,
São as
almas dos amantes
Que
namoram nos bancos dos jardins.
Aqueles
pássaros que passam
Pelo céu
em voos rasantes
Veem
fugindo do vazio
Que os
ares lhes dão.
Têm a
pressa de quem chora,
O desejo
de quem ama,
E a calma
de quem ri.
Pássaros
e solidão voam juntos
A um
destino incomum:
Os
pássaros seguem o sol,
A solidão
segue o homem.
SECRETO
Se não se
importa
Deixarei
fechada a porta
Que é pra
a gente conversar:
Tive uma
paixão proibida
Que
durante toda a vida
Eu não
poderei falar.
VOU
ESQUECER TEU OLHAR
Faz tempo
que não vejo você
Esta
solidão está me matando
Dói corroendo
dentro do peito
Abrindo
crateras – minando...
Todo dia
quando eu abro a porta
Espero
encontrar você no sofá
Espero
ouvir você me chamando
Somente
um abraço eu queria dar
São altas
horas da madrugada
Ouço os
cães ladrando na rua
Você
novamente não apareceu...
Saio e
vejo a lua
Tua
imagem está se apagando
Estou
lutando pra ela não acabar
Mas se
você ficar demorando
Vou
esquecer teu olhar...
Alguém
pode dizer que ama você
Mas não
ama mais do que eu
Você pode
até não me amar
Mas
ninguém fará por você
O que eu seria
capaz de fazer
No
silêncio enlouqueço...
Ouço tua
voz,
É loucura
– alucinação,
Na
verdade é paixão.
Eu não
quero esquecer você,
Nem me
lembrar da tua ingratidão,
Recordando-me
das noites sozinho
Que eu
abria a porta esperando ver
Teus
passos pelo caminho em minha direção...
Vê se dá
um jeito de salvar este amor,
Vê se dá
um jeito de me encontrar,
Vem que
vale a pena ser feliz comigo,
Senão
vires, vou esquecer teu olhar...
INDECIFRÁVEL
Porque do
amor
Essa
coisa estranha que me cerca
Que dói o
tempo inteiro
Por
presença e por ausência
O amor
que eu sinto
Que me
deixa feliz
E de suas
coisas bonitas
Eu não
sei falar...
Quiseram
os deuses
Ocultar
dos poetas amantes
O
conceito do amor bem vivido.
Então esta
coisa que é o amor
Não pode
ser explicado
Com as
palavras mais bem elaboradas
Com as
coisas mais bem ditas.
Há uma
profundidade indecifrável:
O bem
querer e o ser querido,
Do olhar
nos olhos e ser visto,
De ter
outra pessoa como parte de nós mesmos,
Sendo
duas almas que se encaixam,
Duas
coisas que na verdade são
Apenas
uma.
Eu – uma
criatura que já sofreu,
De amores
indiferentes quando os tive,
De
desejos de amores que não tive,
Fiz
poemas pra dizer como dói não ser amado,
Como dói
a solidão;
E ao amor
correspondido,
Eu não
sei louvar.
Esta
coisa de amor,
Indecifrável
como o universo,
Mesmo
assim vou mergulhar,
Sem
conceitos e sem medos,
Sem
vontade de acordar.
O menino
olhava o céu
Quem do
céu via o menino?
LOUCURAS
DE AMOR
Pra dizer
que te amo
Eu já fiz
mil loucuras
E outras
tantas eu farei...
Se amar
vale a pena,
Ser amado
também.
Vou subir
em um muro e gritar...
Vou a São
Silvestre vestindo teu nome,
Pular de paraquedas,
voar de balão,
Cruzar a bahia
de Guanabara,
Com teu
retrato na mão.
As rádios
da cidade tocarão
Todas as
músicas de amor pra você...
E que te
amo eu direi na tv.
De todas
as palavras doces
Escolherei
a melhor
Pra
expressar a ternura
Que eu
sinto por te...
E de
todas as flores
Oferecer-te-ei
a maior.
De todas
as minhas loucuras,
Farei a
de amor...
Que te
surpreenda e te encante,
E te
deixe pronta ao abraço,
Também
louca ainda mais,
Pelo
calor dos meus beijos...
ODISSÉIA
Beija-me
com os beijos de quem nunca esqueceu
Olha-me
com os olhos de quem nunca desistiu
Abraça-me
com os abraços de quem nunca se perdeu
Porque de
fato nossos caminhos se descruzaram
Nossos destinos
se opuseram
Nossas
lembranças se confundiram
E nós nos
distanciamos
De toda
beleza que era nossa história
Toda a
opulência com que nos vestíamos
De amores
e sentimentos encantados
De tudo
isso sente falta a nossa alma
E daquele
fogo que nos aquecia
Hoje
restam as cinzas frias
Nosso
lugar ainda lembra uma fogueira
Nossa
existência ainda lembra paixão
Coisas
que já ocupam lugar de destaque
Nas boas
lembranças do passado
Que de
vez em quando batem novamente
Na porta
do presente pra nos dizer latente
O quanto
ainda se pode amar
JÁ
ESQUECI TEU OLHAR
Há tanto
que não te vejo
E tanto
que não me lembro
Tanto que
não percebo
Quanto
que é sentir
O quanto
que é sorrir
Há quanto
posso dormir
Os dias
passam depressa
Os meses
correm sem parar
Os anos
voam vertiginosamente
O tempo
não vai parar
O show da
vida não cessa
O homem
não sabe amar
A
instabilidade impera
O cerco
tende a fechar
Já disse
– não é quimera
Já
esqueci teu olhar
Os cães
continuam ladrando
O tempo
continua passando
Ainda
posso ver o luar
Mas teu
rosto – que se foi pouco a pouco
Do teu
rosto não consigo lembrar
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